quinta-feira, 11 de julho de 2013

Foto comentada 1



















A foto acima, além de ser bem bacana, tem uma história por trás. Isso não acontece com toda imagem fotográfica. A maioria delas são feitas às pencas, e não deixam a menor lembrança das circunstância em que o obturador foi acionado. Nesse caso, ter essa informação acrescenta certa graça e torna a imagem bem mais interessante. Os três caras deitados são o Chico Buarque, o Tom Jobim e o Vinicius de Moraes em 1979. A foto é do Evandro Teixeira e se tornou uma das mais publicadas quando o tema são eles. A história quem conta é o próprio fotografo, transcrito de um depoimento gravado em 2007.

"Historicamente, acho que é uma foto importante pela história dos personagens, pelo momento... Acho que aquele, como diria o Cartier-Bresson, foi um momento inusitado. (...) Era o aniversário do Vinicius de Moraes, na Carreta, uma churrascaria lá, de intelectuais, de Ipanema e tal...Eu fui fazer uma matéria para o Caderno B, como eu era amigo deles, e chegando lá... E o Caderno B tinha o deadline... E o pessoal estava lá desde o meio-dia, tomando cana, Chico, Vinicius, Tom... Ficamos lá, e eu não bebo, e ficamos lá... E o Vinicius de Moraes era casado, naquela época, com uma argentina, Marquita, que era uma menina linda, novinha, tinha 22 anos, linda, linda... Uma morena linda, argentina... E ficava o tempo todo abraçando a Marquita e beijando, e bebendo, e cantando... E o Tom no violão, e o Chico, e tal... E eu estou clicando, fiz três, quatro filmes, sei lá... E quando eu estava vendo o relógio, eu falei: “Ô Vinicius, pelo amor de Deus, ô Vinicius!... Eu já fiz até agora, operei aqui, acho que três, quatro filmes, sei lá, mas todos os cliques iguais!... E eu tenho que fazer uma coisa diferente!... O Caderno B... Eu vim aqui fazer uma matéria para o B, e o B é uma página gráfica, são duas páginas...” De repente, naquele rompante (eu levei um susto!), Vinicius pegou o Chico e o Tom: “então vamos fazer uma foto diferente!” De repente, no fundo da Carreta tinha uma mesa... Deita o Vinicius, o Tom e Chico... E o Vinicius, num “pau” arretado... Mas, tava num “pau”, cara, tava lá... E eu, nervoso, aquela coisa inusitada ali, como é que eu vou fazer?... Eu gritei para o Teixeirinha: “Teixeirinha, me traz uma coisa aí para eu subir, porra!”, e tal... Fiquei nervoso, como é que eu ia fazer a foto deles lá na mesa?... Aí o Teixeirinha trouxe um tamborete. Eu, na correria, naquele nervosismo, subi no desgraçado, nervoso, o tamborete, fiz um clique. Aí, caí eu, caiu o tamborete, caiu todo mundo... E eu só fiz esse fotograma, né?... Foi o que salvou... E a máquina enguiçou, porque eu segurei a câmera, mas, com o tombo no chão, segurei na mão, e aí prendeu o obturador. E não bati mais nada, "deixa isso pra lá, não quero saber de foto, mais porra nenhuma"... Voltei para o jornal nervoso. E o Alberto Ferreira, que foi um dos maiores editores do Brasil: “cadê a foto?”... Eu disse: “eu acho que eu fiz...”. Eu nunca disse que eu fiz... Não, vamos revelar primeiro... Aí, tinha aquela foto belíssima... Aí, o Alberto Ferreira ampliou 30x40, saiu gritando pela redação, o Alberto Ferreira era uma figura maravilhosa... Aí, ele saiu com aquela foto. As outras para o Caderno B, e aquela para a primeira página" 

Evandro Teixeira, autor das fotos abaixo, é um dos mais conceituados fotojornalistas brasileiros, e trabalhou muito tempo no Jornal do Brasil cobrindo acontecimentos como o golpe militar de 1964, a repressão ao movimento estudantil em 1968, a queda do governo de Salvador Allende, no Chile em 1973 e outros.

























sábado, 6 de julho de 2013

Câmara escura, o início de tudo.

Na câmara escura a luz que reflete dos objetos passa por um
orifício e se projeta, invertida, no lado oposto.


















A fotografia não é invenção de um único autor. Várias pessoas e descobertas, em diferentes épocas, contribuíram para que o processo fotográfico chegasse ao que é hoje. Mas sem dúvida a câmara escura foi a primeira e mais importante descoberta para isso. Os registros sobre o assunto são muito antigos. Atribui-se a Aristóteles os primeiros estudos sobre o fenômeno, isso no século IV antes de Cristo. A câmara escura é um fenômeno natural, que nada mais é do que um simples orifício onde a luz, que ilumina determinado objeto, passa projetando essa imagem invertida do lado oposto, se houver um ambiente escuro. Isso acontece na própria natureza: lembro-me que em casa havia um quarto que projetava na parede, através de uma pequena fenda na porta, a imagem invertida de galhos e árvores existentes no quintal. Isso em estações e horários bem específicos do ano. Em toda máquina fotográfica, e também nas filmadoras, acontece esse fenômeno. Se hoje ainda causa surpresa pra muita gente deparar-se com "o filme de ponta-cabeça" da câmara escura, fico imaginando antigamente, quando ainda não havia conhecimento suficiente para explicar o fenômeno. Nas oficinas de fotografia que realizo com as crianças sempre construo esses objetos para que entendam e vivenciem essa experiência. A câmara pode ser feita de muitas formas, mas a que melhor impacto provoca, tanto em crianças como nos adultos, é a Câmara Escura Gigante que construí para o projeto Conhecer para Conservar, realizado pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas. Nessa câmara as pessoas entram em seu interior e podem constatar o que ocorre dentro de toda máquina fotográfica. É mágico! Pena ser tão trabalhoso montar e desmontar tudo depois.

Os pintores, de diferentes épocas, se utilizaram desse objeto para auxiliar na execução de desenhos e pinturas. Existem notas sobre o assunto feitas por Leonardo da Vinci em 1797, e o cientista Giovanni Della Porta publicou, já em 1558, uma descrição detalhada da câmara escura e seus usos. Mais tarde foram acrescidas outras invenções a ela, como a lente biconvexa junto ao orifício, introduzido pelo cientista Giralamo Cardano em 1550. Com isso aumentou muito a nitidez da imagem, sem perder a escuridão necessária para uma boa visualização. O pintor David Hockney, autor de um livro muito bacana chamado O Conhecimento Secreto, realizou extensa pesquisa comprovando a influencia da câmara escura, das lentes e dos espelhos utilizados por artistas como Caravaggio, Velásquez, Ingres, entre outros, na formação estética de seus trabalhos. Essas lentes foram também um avanço importante para o desenvolvimento da fotografia. Abaixo fotos e um vídeo da câmara escura gigante do Garatuja. Por fora ela foi baseada na máquina fotográfica Kapsa, fabricada no Brasil nos anos cinqüenta. Para saber mais click aqui ou aqui.




quarta-feira, 19 de junho de 2013

A espera

por Márcio Zago

Em 2008 participei do Prêmio Estímulo de Fotografia, edital realizado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. O tema era Diversidade Regional e Cultural Paulista. Com a foto abaixo fui um dos sessenta selecionados para participar de uma exposição que aconteceu no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. A foto fazia parte de um registro que vinha fazendo sobre as festas da região e mostra o momento da preparação do café da manhã para os organizadores da Festa da Cruz Branca. Essa festa acontecia todo ano na Região de Nazaré Paulista, e nela havia o encontro de vários grupos de tradição da região, como Caiapós e Congadas. A foto é de 2004. Outras fotos podem ser vistas no endereço a seguir, feitas por ocasião do lançamento do Kit Universo Poético-Musical dos Congadeiros de Atibaia, pesquisa de Élsie da Costa e lançado pelo Instituto Garatuja e Associação Cachuera!
http://revistaraiz.uol.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=324&Itemid=190



















Fotografia analógica

Na profusão de técnicas, programas, aplicativos e equipamentos voltados a fotografia, o sistema analógico virou mais uma das inúmeras possibilidades de se registrar uma imagem. Historicamente toda evolução tecnológica deixa por algum tempo um rastro de adeptos e admiradores da técnica superada, e isso por inúmeras razões. No meu caso gosto do sistema analógico pelas possibilidades didáticas que oferece. O fascínio do laboratório é muito apropriado a curiosidade infantil, e possibilita experiências marcantes na formação do aprendiz, principalmente pelos aspectos sensoriais. André Correa, criador do site Queimando Filme afirma que se interessam por fotografia analógica hoje aqueles que têm um “espírito de artesão”, já que há, na fotografia com filme, todo um ritual de se escolher, pensar, fazer e esperar: Um verdadeiro escape do imediatismo em que hoje estamos mergulhados. André Correa também é criador do Filme Palooza, evento que reúne adeptos da fotografia analógica e mostra que, apesar de toda evolução da tecnologia digital, o sistema analógico ainda tem fôlego para sobreviver por muito tempo. Para quem quiser saber mais acesse: http://jornalismojunior.com.br/blog/filmepalooza-fotografia-analogica-conviver/ Aproveitando o ensejo posto esse vídeo que achei no Youtube feito com a laboratorista Rosângela Andrade. É bem bacana.





sábado, 27 de abril de 2013

O Laboratório Fotográfico do Garatuja
















As primeiras experiências com fotografia começaram no Garatuja no início da década de oitenta através do fotografo Armando Canuto. Armando trabalhou muitos anos na gravadora CBS produzindo fotos para encartes e capas de discos, e por determinado tempo morou em Atibaia, realizando aqui cursos e oficinas. Euclides Sandoval, outro fotógrafo recém morador da cidade, dividia com ele parte do curso direcionada a linguagem fotográfica. Fui aluno deles e a partir daí, animado com as novas possibilidades que se abriam ao Garatuja, passei a introduzir a fotografia no ensino da arte para crianças. Logo de inicio ficou evidente o interesse que a atividade despertava, principalmente para os maiores de oito anos. Nessa época nem se pensava em fotografia digital e o sistema analógico, em preto e branco, era a única possibilidade para quem quisesse se aventurar na prática fotográfica de maneira amadora. Lembro-me que tudo que envolvia esse meio tinha um custo bastante elevado e a saída era improvisar. Com o tempo fui adquirindo equipamentos e materiais mais apropriados a atividade, como bandejinhas, lanterna, timer e ampliador. O laboratório monta/desmonta, que funcionava no banheiro, durou até o ano 2000, quando da reforma e ampliação das dependências do Garatuja, adquirindo então local próprio. Nesse ano a fotografia digital já estava consolidada e o sistema analógico em vias de extinção, mas mesmo assim resolvemos investir nele. Embora obsoleto, o laboratório é fonte de grande interesse por parte das crianças, assim como de jovens e adultos frequentadores do espaço. Com a expansão dos meios digitais, somados as suas limitações sensoriais, a prática analógica volta a ganhar importância e ser visto como "novidade" frente as modernas tecnologias. O Garatuja tem como proposta pedagógica o dialogo entre as antigas práticas do fazer artístico e os atuais sistemas digitais, e nesse sentido o laboratório fotográfico do Garatuja ainda será de grande utilidade, pelo menos enquanto houver um jovem ou criança disposto a descobrir a magia da revelação.